domingo, 21 de agosto de 2011

Os disputados túmulos de Franca. Outdoors restringidos.

1. Os disputados túmulos de Franca.

Túmulo, segundo Silveira Bueno (Grande Dicionário Etimológico Prosódio da Língua Portuguesa. v.8. Saraiva: São Paulo, 1961. p.4113) significa "sepulcro, tumba, catacumba, cova, do latim tumulus". Já o conceituado Lello Universal (Lello & Irmãos.v.4. Ed. Porto: Portugal, p.1005), ao tratar de sarcófago, ensina ser a palavra "oriunda do grego sarkos (carne), phagein (comer). Ataúde de pedra, no qual os antigos colocavam os cadáveres que não queriam incinerar. No Egito os sarcófagos aparecem desde o tempo do antigo Império nas pirâmides, depois nos poços tumulares e nas necrópoles subterrâneas."
Em outras palavras, o assunto túmulo tinha, em épocas antigas, interesse e grande importância, com conotação religiosa e rituais de acordo com a importância dos mortos, quase sempre imperadores, faraós ou pessoas de igual porte. Portugal, que teve relação direta com o início da civilização brasileira, também se revelou como entusiasta de túmulos que exaltaram o alto valor da arquitetura dos mesmos, especialmente para guardar or restos mortais de seus imperadores e figuras relevantes da corte. Tal costume se estendeu nos primórdios do reinado e império do Brasil, sendo que, em todas a cidades brasileiras encontramos grandes mausoléus. E Franca não foi diferente, havendo, no Cemitério da Saudade, o mais antigo, com túmulos muito bem construídos, especialmente aqueles feitos de mármore, pela família Minervino. Com o passar dos tempos as pessoas passaram a ignorar tal costume, obviamente, sempre encarando o túmulo como um local necessário para o descanso dos restos mortais das pessoas queridas, sem, no entanto, manifestarem exagero em relação à solenidade, caixão, e demais atividades do féretro.
Como o Cemitério da Saudade, antigo e já totalmente ocupado, não permitia o enterro de novos mortos, o Prefeito, preocupado, inclusive com sua situação, teve a ideia de decretar a extinção do direito de ocupação de áreas onde, através de critérios discutíveis, não há aparência de existência de familiares interessados na manutenção da permissão municipal.
Mas, os episódios que se seguiram, em relação ao assunto, são dignos do jornalista, já falecido, Sérgio Porto, que, entre outros personagens, criou a figura de Stanislaw Ponte Preta, autor de crônicas satíricas e críticas contundentes aos costumes da época, assim como o Febeapá (Festival de Besteiras que assola o país).
Em Franca, após a tramitação dos avisos previstos na lei municipal e não havendo o comparecimento de interessados nos prazos estipulados, os primeiros lotes destinados à leilão e cessão municipal foram disponibilizados pela incrível importância inicial de R$19 mil reais, como lance inicial, passando a ser não uma medida democrática (eis que pessoas de pouco poder aquisitivo estão alijadas), mas mais uma medida de benefício a poucos.
Segundo noticiou a imprensa, mais de 150 interessados apareceram, inclusive o Prefeito, todos apresentando suas propostas ao leilão. Mas, o mais cômico foi a descrição das propostas, uma vez que havia disponibilidade para locais onde houvesse árvores frondosas, com sombra disputada e pessoas da alta estirpe francana disputando o direito de se eternizarem através de projetos de sarcófagos de dar inveja aos faraós. Alguns, com alto poder aquisitivo, até se dispondo a adquirir várias áreas.
Este foi mais um capítulo de parte da sociedade francana que, não só se preocupa com a aparência em vida, mas que pretende eternizar a mediocridade infinitamente. Stanislaw Ponte Preta e, atualmente, José Simão, sempre terão assunto para suas crônicas satíricas e, Franca, mais uma vez, fornece subsídios para tal.

2. Outdoors restringidos.

Franca, ultimamente, vinha se notabilizando, entre outras coisas, por intensa poluição visual. As empresas de publicidade, cientes da apatia municipal, inseriram outdoors enormes, muitos sem qualquer criatividade e de péssimo gosto. Neste passo, cresceram as reclamações, pois a cidade estava cada vez mais penalizada com a atuação indiscriminada das empresas de comunicação. Além disso, pessoas que deveriam dar o exemplo, como os deputados (estaduais e federal), passaram a engrossar o mau uso dos outdoors, uma vez que passaram a estampar como suas conquistas atos administrativos  normais dos governos estadual e federal e aumentaram o número de outdoors poluidores.
Agora, segundo dá conta a imprensa local, através de decreto municipal publicado na quarta-feira, os anúncios vão ter que seguir um tamanho padrão e manter distância mínima um dos outros. Além disso, não poderão ser colocados em terrenos edificados ou sobre edificações.
Na verdade, é medida tímida. O povo aguarda maior rigor, uma vez que não se pode regulamentar apenas outdoors. Há instrumentos outros que são utilizados e que transformam o visual da cidade, de maneira a tirar suas belezas naturais e que deveriam constar do decreto e que foram olvidados.
No entanto, como primeira medida, foi muito bem recebida. Agora, embora seja um sonho esperar medida igual a adotada na capital do Estado, resta persistir e afastar aqueles que insistem em praticar o crime de poluição visual.

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