sábado, 24 de janeiro de 2015

Tecnofobia

Tecnofobia.


Há pouco, mandei realizar uma revisão e limpeza de minha antiga máquina de datilografia, usada por mais de 30 anos no exercício da advocacia. Isto sem saber o motivo, pois trata-se de uma peça em extinção, ou seja, está em completo desuso, após a era do computador. Resistiu, heroicamente, até que alguém resolveu determinar a prevalência da era eletrônica nos fóruns e a máquina foi relegada a peça de museu.
A existência dos primeiros videogames que acompanhavam minha rotina de pai me inseriu no grupo dos tecnófobos, e o surgimento dos computadores e celulares veio confirmar que, embora não tenha nenhum orgulho disso, minha dificuldade em lidar com tecnologia é um mal inexorável.
Minhas habilidades manuais sempre foram pequenas, sendo que a elaboração de uma pipa , de um carrinho de rolemã ou um aeromodelo, diversões próprias de minha infância, transformavam-se em pesadelos angustiantes.
Já na idade adulta, apegado à tradicional máquina de datilografia, tive dificuldades de trocar minha amada Triumph pelos "modernos" computadores e notebooks. Que dizer do telefone fixo, para o idolatrado celular!
E, não fica por aí. Gosto de ouvir, pelo rádio, jogos de futebol, quando não televisionados diretamente. E, mania antiga, não abro mão dos radinhos portáteis movidos a pilhas. Recentemente, adquiri um novo, para servir-me nos campeonatos que se iniciam brevemente.
Daí, quando leio uma notícia de que "antes confinados ao universo do esporte de alto rendimento, aparelhos capazes de medir batimentos cardíacos, a velocidade dos passos e os deslocamentos do usuário estão se tornando cada vez mais populares ao serem abraçados por marcas como Sony, Samsung, Motorola e LG, nas ondas dos chamados dispositivos vestíveis", fato agora seguido pela gigante Apple, que prepara o lançamento do "Apple Watch", entendo que minhas ondas de tecnofobia só tendem a aumentarem.
O uso multifacetado dos novos relógios não ficará restrito às atividades físicas ou médicas, mas estender-se-á a outros rastreamentos das atividades humanas. Com um relógio ou uma pulseira, poder-se-á analisar o que o aluno faz o dia inteiro, ou até mesmo um empregado de uma empresa, ou seja, a privacidade e a segurança estarão nas mãos dos detentores da tecnologia.
Os avanços da humanidade caminham mais rápidos do que nossa vã imaginação pode esperar e, aqueles como eu, tecnófobos de telefones celulares, computadores e outras parafernálias eletrônicas, estarão em maus lençóis.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Museus públicos e abandono.

Museus públicos e abandono.


Quem viaja ao exterior sente o cuidado extremado que as nações destinam aos seus museus. Particularmente, pude constatar em Washington, D.C., nos EUA, um sem número deles em que se percebe o carinho da população e dos dirigentes, sejam os museus públicos ou privados, onde a organização reflete a importância que se deve dar a tais elementos fundamentais da cultura.
Paris, na França, Roma, Florença, Milão, na Itália, também possuem museus que guardam dados e peças históricas monumentais que proporcionam a quem os frequenta um apanhado visual do desenvolvimento gradual da humanidade. Todos eles, sem exceção, impecáveis.
É por isto que Denise C. Stuart (STUART, Denise C. Museus: emoção e aprendizagem. Revista de História.com.br. Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/educacao/museus-emocao-e-aprendizagem. Acesso em 17 jan. 2015) afirma sobre a importância dos museus:


"Ao contrário do que acontece na escola, onde a formação se dá pela frequência diária às aulas, uma visita ao museu pode ter tempos diferenciados e acontecer paulatinamente ao longo da vida, em diferentes ocasiões, independentemente de idade e grau de conhecimento. Além disso, a experiência dos visitantes será sempre distinta de outras: cada um vai observar, compreender e absorver o que está exposto ou escrito de maneira diferente. O aprendizado no museu tem, enfim, um caráter único, sempre condicionado à experiência individual do visitante e das circunstâncias em que ocorreu a visita, na medida em que as percepções variam segundo o contexto da visitação."


E mais:


"Diversas histórias estão ali prontas para serem narradas: histórias de outras épocas evocando povos e civilizações antigas, com suas maneiras de viver e pensar; e do mundo contemporâneo do qual fazemos parte, com suas novas descobertas, formas de expressão artística, cultural etc. São espaços simbólicos, muitas vezes mágicos e surpreendentes, capazes de oferecer uma experiência ao mesmo tempo educativa e divertida."


No exterior, há filas enormes para visitas aos museus. E, a grande maioria deles, cobra para o acesso. São bem administrados, possuem inúmeros funcionários e a segurança fica por conta da polícia local, do estado e, em alguns, até pelo exército, como na Itália.
Pois bem, todo este prólogo é para manifestar minha revolta com três notícias da mídia nesta semana. A primeira, dando conta que o Museu Nacional iria fechar em virtude da "falta de verbas para serviços de limpeza e vigilância". Trata-se do mais antigo museu do Brasil, especializado em história natural, sendo o maior da América Latina na área. É mantido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A segunda, informando que uma Fundação para a Memória Republicana Brasileira, no Maranhão, criada por José Sarney para guardar 40 mil itens pessoais relacionados a sua vida pública e transferidos para o poder público por sua filha Roseana Sarney, fazendo com que o mesmo  gastasse R$8 milhões entre 2012 e 2014, estava se tornando uma dor de cabeça para o atual governador Flávio Dino, que não sabe o que fazer com tamanho desperdício da instituição-museu que está num prédio colonial de 1654 no centro histórico de São Luís. O prédio conta com 48 funcionários comissionados (indicados) que consomem verba mensal de R$174 mil mensais. Todo este desperdício de dinheiro é lamentável, pois ao invés de promover o culto de um político que não deixará boas lembranças, transfere verbas que poderiam suportar museus verdadeiramente interessantes para a cultura maranhense e nacional.
A última notícia é local, da cidade de Franca, onde seu Museu Histórico, que funciona num dos prédios mais antigos e significativos, possuindo grande acervo de dados e objetos da história francana, está em total abandono, com goteiras em toda sua construção, não havendo perspectiva de qualquer atitude para corrigir tal fato por parte do poder público. E todo mundo sabe que o órgão responsável pelo museu é a Feac que possui verbas para tal, mas prefere destiná-las a despesas menos importantes como as destinadas ao time de basquete que, por sinal, é privado. E, ainda que a Feac se abstenha de suas funções primordiais, o prefeito deveria abraçar a defesa do Museu, mesmo que tal ação não traga dividendo eleitoral futuro. Afinal, é a história da cidade que está em jogo. Talvez seja esperar muito de um político que, iniciando a segunda metade de seu mandato, nada fez. É bom lembrar que este político caiu na cadeira de prefeito graças ao ex-prefeito Sidnei, outro que nunca cuidou da manutenção de museus e bens públicos, preferindo obras que satisfizessem seu ego. Pobre Franca!