quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Votar ou não votar, eis a questão.

Votar ou não votar, eis a questão


 "O Demônio não soube o que fez quando criou o homem político; enganou-se, por isso, a si próprio." William Shakespeare




Embora nos EUA o voto não seja obrigatório, as pessoas são politizadas e, em grande maioria, cumprem com a obrigação de votar. Mas, lá como cá, onde o voto é obrigatório, a vontade de votar já não entusiasma mais.
Parece um dilema shakespeariano, mas, na verdade, é uma das maiores aflições na situação hodierna.
Assim, ninguém gostaria de estar na pele norte-americana por ocasião das eleições para a presidência. Se, de um lado, Donald Trump é uma aberração, do outro, Hillary não desperta muitas expectativas. Já aqui, nos trópicos, a situação ultimamente é muito desanimadora. Enquanto não vem a propalada reforma política, com a aprovação da PEC 36, baseada em três pilares: cláusula de barreira, fidelização partidária e extinção das coligações para eleições de deputados e vereadores, sabe-se que as mudanças deveriam ser mais profundas. Se a cláusula de barreiras visa à extinção do elevado número de partidos e é fundamental, por outro lado, há que se pensar seriamente na adoção de um "recall", um instrumento que permite a instauração de um processo para revogar o mandato de um político que, por exemplo, não esteja cumprindo promessas de campanha.
Por outro lado, está comprovado, a reeleição não é um instrumento bom. Para os cargos de presidente, governador, prefeitos já ficou comprovada sua falência. Não há registro de político dessas áreas que tenha se saído bem num segundo mandato. Os exemplos recentes de FHC e Lula comprovam a assertiva. Num plano inferior, na cidade de Franca, não encontramos nenhum caso de prefeito reeleito que realizou trabalho administrativo razoável num segundo mandato. E, como se vê, atualmente, há aquele que pleiteia um quarto mandato, com risco de sucesso.
As consequências da falência do sistema político se refletem na grande parcela de cidadãos indiferentes ao ato de votar, fato facilmente comprovado no primeiro turno das últimas eleições com um volume preocupante de votos nulos e em branco, em alguns pleitos superiores ao alcançado pelo candidato eleito.
Mister se faz uma verdadeira revolução na política, trazendo figuras novas e sem máculas para o universo do setor, os quais, após mudanças na atual legislação, sejam capazes de realizarem plataformas exequíveis visando o bem estar comum. Como bem assinalou a jurista Maria Garcia "é preciso mudar a realidade ética e a qualidade do político brasileiro."  Neste sentido, necessárias mudanças nos dois lados: desenvolvimento de novas lideranças e o envolvimento maior do próprio eleitorado.
Importante salientar que podemos fazer um paralelo entre o que podemos esperar de um político  com a visão que o Pe. Antônio Vieira fazia de um pregador:  "O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente convertia-se o mundo, hoje por que não se converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras são tiro sem bala: atroam, mas não ferem." VIEIRA, Antônio. Essencial Padre Antônio Vieira. Org. Alfredo Bosi. São Paulo: Penguin. Companhia das Letras, 2011. p.144).
Que todos nós consigamos sair desse atual marasmo político para, finalmente, um dia, termos condições de ter orgulho de realizar o ato sublime da cidadania qual seja o de votar, e de votar bem!