domingo, 25 de outubro de 2015

Conflito de gerações.

Conflito de gerações.

"Havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a clarabóia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo."
(Mário Quintana).


A evolução de uns tempos para cá surge num ritmo alucinante e as pessoas têm dificuldade em acompanhar tecnologias e costumes que mudam. É fácil entender que viver nos séculos XIX para trás deveria ser muito mais agradável e proveitoso. Pelo menos para mim, que sou do meio do século XX e custo a me adaptar ao atual. Sou da época do telefone fixo, da máquina de datilografar, do rádio portátil, da fita cassete, do videocassete, do relógio de pulso, de Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones, Luiz Gonzaga, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Elis Regina e outras antiguidades.
Custei a me adaptar aos rudimentos básicos do computador e tenho ojeriza pelo telefone celular porque, além de ter mil utilidades para serem administradas, escraviza a pessoa que dele se utiliza.
Estas elucubrações vêm a propósito de genial artigo que li recentemente, de autoria do jornalista Eugênio Bucci, a propósito do anúncio da revista Playboy de suprimir seus ensaios de nus femininos, intitulado "E a nudez morreu de overdose"(Estado de S. Paulo, caderno Aliás, p. E2, 18.10.15).
No texto, de maneira feliz, o autor, nos primeiros tópicos, descreve aquilo que entendo como conflito de gerações: "Naquele tempo, um telefone quando tocava fazia triiim. Era muito simples distinguir. Hoje, os mobiles soam das maneiras mais impertinentes: uns apitam como grilos cibernéticos, outros gritam como perus sampleados, há os que latem schnauzers remasterizados. Ficou difícil aprender a diferença  entre  uma chamada telefônica e a campainha da porta ou o alarme do forno. Naquele tempo, telefone era telefone, campainha era campainha e forno era forno. As separações entre uma coisa  e outra eram mais esquemáticas. Esquerda era esquerda; direita era direita. Homem  era homem; mulher era mulher. Depois, o mundo se complicou e as categorias que eram estanques foram fundindo e confundindo  num aguaceiro multiculturalista, transgenérico, supertecnológico."
Ou seja, a evolução é tão rápida que mal posso entender que ainda veria a notícia de que a Playboy irá suprimir seus ensaios de nus porque não seriam mais interessantes para a geração atual.
Adoro o progresso e a tecnologia mas acredito que a nostalgia irá sempre falar mais alto quando o assunto for aquele objeto do artigo de Bucci. E, espero, com sinceridade, que tal decisão não contagie demais órgãos da mídia, pois seria como bem concluiu Bucci "Adeus, passado. Adeus bons tempos, em que os telefones eram telefones, os homens eram homens e as mulheres... e as mulheres eram um avião!"
O pensador Chico Xavier, ao ouvir tais elucubrações, certamente nos remeteria a um de seus pensamentos:
"Progresso é a soma dos problemas solucionados. Evolução é a barreira vencida. Dificuldade é medida de resistência. Tribulação é o cadinho de fé."