segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A queda de Dilma: uma nova era?

A queda de Dilma: uma nova era?

É claro que esperamos que sim. Nada pode ser comparado, em termos de política, com a era Dilma. O processo de impeachment desta pessoa, indicada por Lula, provocado pela sua incapacidade política e fraudes fiscais praticadas, atentatórias à Lei de Responsabilidade Fiscal e à Constituição Brasileira são fatos fartamente expostos no longo processo a que foi sujeita e cujo final se aproxima.
O país ficou constrangido com as provas apresentadas e a defesa inconsistente e mentirosa apresentada pela defesa de Dilma. Todos tiveram oportunidade de assistir aos debates de um longo e desnecessário processo que, embora discutisse crimes fiscais, teve durante seu curso notícias de uma infindável série de crimes outros investigados pela Operação Lava Jato, em que não só Lula e demais petistas estão envolvidos, como, também Dilma aparece como partícipe ou autora, tornando o objeto do impeachment um mero coroamento de um sistema criminoso em que o grupo palaciano era o centro difusor, mantendo o país refém e destinatário da pior crise econômica jamais vista.
Realmente, o Brasil, que sempre contou com políticos de reconhecida idoneidade e capacidade, tais como Ulisses Guimarães, Carlos Lacerda, Juscelino Kubistchek, Tancredo Neves e André Franco Montoro, que praticavam política em seu sentido correto, vivenciou um período negro de 21 anos, graças ao longo tempo ocupado pelos militares após 1964, inibindo o surgimento e desenvolvimento da nova classe política.
Com a Constituição de 1988, uma nova era de direitos possibilitou o surgimento de novas lideranças creditadas pelos novos ares de proteção democrática. Passados 28 anos, a nova classe política, ainda claudica em seus passos e se não tivesse ocorrido o crescimento progressivo da corrupção nos governos Lula e Dilma, que propiciaram investigações eficientes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, nos processos do Mensalão (Lula) e Lava Jato (Dilma), a classe política não teria reagido à altura.
A proximidade das eleições para prefeitos e vereadores faz surgir um inquietação quanto à seriedade e continuidade dos progressos já obtidos no combate à corrupção que destrói a boa política, mas que apesar de ser elemento importante, não é o único problema. Há outros, como a qualidade que se espera dos candidatos a cargos públicos, dos quais se exigem conhecimentos técnicos e propostas sadias, necessárias e passíveis de serem realizadas.
No entanto, assim como sempre, ao ler as listas de candidatos atuais vemos que uma grande parte se preocupa em salientar seus pseudônimos, como uma  referência fundamental, ao invés de um credenciamento lastreado em qualidades de projetos públicos do interesse dos eleitores. Para tal, até o colunista José Simão da Bandeirantes, há pouco listou um sem número de alcunhas que, apenas circunstancialmente, citamos em nossas duas principais cidades da região. Em Ribeirão Preto, temos curiosas alcunhas como: Foguim, Marmita, Drica do Mercadinho, Zika, Maria Capoeira, Toninho Minhoca, Cidinha Alto Astral, Carlos Burro, Tio Fortuna, Faísca, Evaldo Bucha, Giló, Ratinho, Fábio Sardinha, Zé Galo, Eduardo Danone, Coruja, Claudio Jacaré, Marcio Terror, Marcos Gominha, Help, Nilton Gaoila, Seu Lau, Gordinho da Saveiro. Em Franca, temos: Baixim do Sindicato, Toinzinho Garçom, Pelé do Recurso das Multas, Mineirinho, Laercinho do Paiolzinho, Baiano Rei dos Relógios, Helinho do Megafone, Isilda do Baile, Alemão da Padaria, Zezinho Cabeleireiro, Leandra Zona Sul, Li das Galinhas, Dendão do Elimar, etc.
Daí volta-se ao problema crucial nacional que os treze anos da política governamental petista criaram no nosso universo e muito bem analisados pelo brilhante cientista político Bolívar Lamounier (in Duas perspectivas sobre o porvir brasileiro, artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo, p.A2, de 28.08.2016): "Arrastando-se por treze e meio longos anos, a dinâmica acima descrita ganhou velocidade, como um processo de fissão nuclear. Atritou entre si os três ramos do governo e dividiu cada um deles num grau jamais visto no País. Atomizada e desprovida de representação partidária adequada do ponto de vista eleitoral, os diferentes setores da sociedade não obstante se organizaram para a defesa de seus interesses, acentuando até o limite o espírito corporativista existente desde havia muito no País." Mais adiante, conclui: "ao cidadão comum restará apenas o consolo de dizer - com Fellini, mais uma vez - que 'la nave và', mesmo não sabendo para onde vai essa nave tresloucada."
O que mais preocupa é que, passados séculos, as diferenças entre política e moral, ao invés de ocorrer uma simbiose entre os dois conceitos (o ideal), a distância entre os mesmos mais se acentua, prevalecendo a ideia de Maquiavel que defendia a autonomia da política. Assim, a política maquiavelista deixa de lado a moral valorizando o objetivo a ser conseguido, situação quase comum nos dias atuais. Numa melhor análise, Bobbio, Mateucci e Pasquino, in Dicionário de Política, volume 2. Brasilía: ed.Unb. 1995. p.961) explica melhor esta incompatibilidade: "O universo da moral e o da Política movem-se no âmbito de dois sistemas éticos diferentes e até mesmo contrapostos. Mais que de imoralidade da Política e de impoliticidade da moral se deveria mais corretamente falar de dois universos éticos que se movem segundo princípios diversos, de acordo com as diversas situações em que os homens se encontram e agem."
No entanto, após a luta dos brasileiros para a derrubada de Dilma e do domínio criminoso petista, e, embora ainda vejamos candidatos sem qualquer projeto político se aventurarem na política iniciando carreiras municipais sem qualquer objetivo senão obter um meio de remuneração abstraindo qualquer projeção que atenda às necessidades da população, não podemos nunca desistir de um Brasil melhor.