domingo, 26 de junho de 2022

Os sessenta anos da Unesp, Campus Franca. Um complemento ao esquecimento da mídia.

"Omissão é a cópia não autenticada da mentira", (Fernanda Estelita)


Nesta semana noticiou-se na EPTV e no Grupo GCN sobre os sessenta anos dos cursos da Unesp, Campus Franca, e percebi, como ex-aluno e filho de Alfredo Palermo, o qual instalou os cursos iniciais da Unesp Franca (à época, Instituto Isolado, sob o nome de Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca), que alguns dados históricos relevantes foram olvidados, o que considero lamentável e desrespeitoso aos cidadãos. Daí, resolvi lembrar alguns fatos não mencionados.

Em 1962 foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca. Em 1963, atendendo convite do então governador do Estado, Adhemar Pereira de Barros, o professor Alfredo Palermo teve a honra de instalar a faculdade, sendo os primeiros cursos: História, Geografia, Letras e Pedagogia. A faculdade teve início precário nas dependências do EETC e depois em um prédio de uma escola secundária até 1967. Em 1968, na gestão do professor Alfredo, foi adquirido o prédio do antigo Colégio de Nossa Senhora de Lourdes, no centro da cidade. Em 1976 a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi incorporada à atual Unesp.

Como aluno do curso de História, lá estive por quatro anos nos primórdios da faculdade, podendo testemunhar a semente educacional que brotou e foi edificada por abnegados responsáveis pela construção de páginas importantes na história da educação francana. A Instituição passou por três fases, bem definidas pelo CEDEM (Centro de Documentação e Memória da Unesp): a primeira, em 1963, como Instituto Isolado; a segunda, em 1976, incorporada à Unesp, a qual retirou de Franca os cursos de Geografia, Pedagogia e Letras, trazendo em contrapartida o curso de Serviço Social, passando a chamar Instituto de História e Serviço Social; e a terceira e última, em 1985, com a criação do curso de Direito, vindo a denominar-se Faculdade de História, Direito e Serviço Social. E, em sequência, com a criação do curso de Relações Internacionais, passou à atual denominação Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.

A primeira fase contou com grandes professores de Franca, parte egressa do tradicional EETC, funcionando provisoriamente em escola cedida e, posteriormente, nas dependências da antiga escola Colégio Nossa Senhora de Lourdes, vendido pela Irmandade ao Estado na gestão Alfredo Palermo. Aos poucos, crescendo ainda sob a tutela de Alfredo Palermo, a faculdade passou a contar com excelentes mestres vindos da USP e até do exterior como o Prof. Dr. Jean Dulemba, da França. Não podem ser esquecidos os funcionários daquela época, como Fernão de Lima, Ronaldo Mange, Oswaldo Arantes, Joaquim Guerra e tantos outros que ajudaram na parte administrativa.

Também, quando o Instituto Isolado já havia sido incorporado à Unesp, ainda no prédio antigo, com o nome de Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, conheci e participei da terceira fase, no curso de Mestrado em Direito. Acompanhei, portanto, progresso paulatino e engrandecedor.
Atualmente, está em novo, amplo e moderno prédio, localizado na Avenida Eufrásia Monteiro Petraglia, 900, o Campus de Franca é orgulho da cidade, de onde saíram alunos que hoje ocupam cargos e funções de destaque no cenário nacional.

Sendo uma Instituição nascida sob a égide de professores francanos, no início e durante bom tempo os cursos do Campus de Franca puderam formar milhares de alunos da cidade e região que guardam grandes recordações e orgulho do ensino respeitável desde então. Com o passar dos tempos, já que lá vão sessenta anos, novos professores, a maioria oriunda de outras plagas, sem conhecimento das tradições locais e de seus cidadãos, é natural que alguns fatos tenham sido esquecidos. No entanto, como partícipe da história da escola no corpo discente e mantendo o orgulho das conquistas daqueles que lutaram pela realidade que se transformou a atual Instituição, julgo necessário esclarecer portanto estes detalhes que passaram desapercebidos, como medida de justiça a tantos que levantaram o nome da Unesp Franca para que chegasse à atual posição de relevo.

Não nos esqueçamos da ponderação do historiador Marc Bloch de que "o desconhecimento do passado compromete a ação humana no presente" (Bloch, Marc. A história, os homens e o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 51-68).

E é o mesmo historiador que adverte que "os sentimentos influem na análise independente da distância temporal – pois, toda a leitura do passado, ou seja, o estudo do historiador é motivado por interesses e por sua própria vivência, assim seu processo de interpretação do passado é influenciado por seus sentimentos e escolhas" (p. 61). 

Desta forma, é fácil entender a posição daqueles que, por terem ideologias diversas, destoam no relato ou omissão deliberada de determinadas fontes históricas.




sexta-feira, 1 de abril de 2022

Ao mestre, com carinho!

Às vezes, costumo sonhar acordado. Num desses devaneios tive um encontro virtual com meu pai, Alfredo Palermo, que nesta data, se vivo, completaria 105 anos. E foi neste devaneio que, como de outras vezes, ele me perguntou: "Como estão as coisas aí na nossa Franca e no nosso Brasil? Quais as novidades?".
Com cara de espanto preparei-me para dar-lhe notícias desagradáveis. Disse-lhe, inicialmente, que em Franca a situação era calma, com estragos sociais e econômicos decorrentes da pandemia e com uma gestão municipal que ainda não havia decolado, apesar das dezenas de promessas eleitoreiras. Mas, alertei que, em relação ao Brasil, era melhor ele se preparar para ouvir situações que sua carreira e luta nas cátedras de Estudos de Problemas Brasileiros, Cultura Brasileira e Direito Constitucional iriam decepcioná-lo.
Lembrei de sua obra e palestras de Estudo dos Problemas Brasileiros, onde o enfoque girava pela necessidade do culto aos problemas sociais, econômicos, políticos sempre sob a exaltação do amor e dedicação à Pátria. Lembrei de suas aulas de Cultura Brasileira onde enfatizava história, hábitos, caráter e demais características específicas do brasileiro. Lembrei de suas aulas de Direito Constitucional onde se esmerava em ensinar e defender a Lei Maior e o principal princípio, qual seja o da separação e independência dos Poderes. Disse-lhe que, pela primeira vez, na história do STF, tal princípio virou pó nas mãos de ministros que compõem a pior turma já existente naquela Instituição. Foi aí que ele, desencostou da nuvem e me interrompeu: "Não acredito! Quando aí ainda estava nunca presenciei tal sacrilégio. Sou de uma época de sumidades como Carlos Maximiliano, Themístocles Cavalcanti, João Mendes, Moreira Alves, Alfredo Buzaid e estes nunca violaram a Lei Maior!".
Retruquei: pois é, esta era acabou. Hoje temos 11 ministros que não merecem confiança e nem têm os requisitos básicos da função: ilibada conduta e notável saber jurídico. São, na grande maioria, pessoas indicadas pelos presidentes mais corruptos da história nacional e atuam como servos de seus desejos, chegando a criar um novo termo para livrar réu reconhecidamente culpado por corrupção: "descondenação", aplicado ao ex-presidente Lula, que você chegou a conhecer mas não pôde presenciar a descoberta de seus malfeitos e condenações.
"Bem", disse ele, aturdido, "acho melhor voltar ao meu cotidiano atual". Agradeço-lhe pelas notícias que farão parte de minha próxima "Gazetilha" já que o Xará (Alfredo H. Costa, ex-diretor do Comércio da Franca), já me cobrou o artigo e agora tenho assunto. Devo me apressar porque logo mais o Josaphat França, o poeta, virá me visitar para papo literário e recordarmos das reuniões das Academias Literárias, de Franca e Ribeirão Preto.
"Não posso me esquecer de verificar o andamento da lasanha de Estrasburgo que a Nydia está preparando para recebermos os amigos Favorino e Jurema, que virão me cumprimentar para colocarmos as conversas em dia, acompanhados de um bom vinho italiano. Até o próximo encontro. Um abraço".
Até. Parabéns pelo aniversário! Grande abraço!