sábado, 1 de abril de 2017

Centenário do nascimento de Alfredo Palermo. Subsídios biográficos.






I.              Justificativa.

Alfredo Palermo foi uma das mais significativas personagens francanas do século 20 e primórdios do século 21. Foi professor nos cursos secundário e superior e, em todos deixou sua marca indelével de mestre com M maiúsculo. Além disso, teve sob sua responsabilidade a criação de três faculdades, todas elas incorporadas a universidades e a autoria dos dois mais importantes hinos de Franca. Foi deputado federal por uma legislatura, apresentando grandes projetos de lei, defendendo também os mais importantes de interesse nacional e brilhando como orador no plenário, nas vezes em que atuava em seus projetos ou nos que aparteava. Além de educador, foi grande advogado no Tribunal do Júri, jornalista por mais de 60 anos, poeta, cronista, escritor, autor de obras ligadas ao direito, história, literatura, civismo. Teve ainda participação em entidades e clubes, como o Rotary Club, em que sempre se destacou e onde angariou suas melhores amizades. Os francanos, no período, são testemunhas, como ex-alunos ou cidadãos, de suas atividades e de seu amor incontido pela cultura e por Franca. Sua morte, ocorrida em dezembro de 2009, há quase 8 anos, período em que foi lembrado poucas vezes, justifica os presentes dados biográficos que, ao lado de outros publicados em outros segmentos anteriormente, poderão servir àqueles que, no futuro, se interessarem em conhecer parte da vida e da obra do “professor Palermo”, como era mais conhecido. Como afirmou o poeta mexicano Octávio Paz “os poetas não têm biografia. Sua obra é sua biografia.”

II.            Histórico.

Alfredo Palermo nasceu em Franca, SP, no dia 01 de abril de 1917. Hoje, portanto, comemoramos o centenário de seu nascimento. Filho de imigrantes italianos, João Palermo e Maria Teresa Tortorelli Palermo, oriundos da cidade de Trecchina (Basilicata, Itália). O progenitor veio primeiro, nos primórdios do século 20, aos 18 anos, e a mãe, dois anos após, aos 20, para, casados, iniciarem a vida no Brasil. Tiveram numerosa prole: 8 filhos, Maria, Américo, Alfredo, Elza, Hélio, João, Leandro e Nelson. 



                            João Palermo              Maria Teresa T. Palermo




 Alcídes Franchini e Maria, Nydia, Nelson atrás, com filho Nelsinho e Hélia, Américo e Maria Stella, Altina e Hélio, Elza e Hermantino, Alfredo, Leandro e João Júnior agachados.   



Como bem assinalou o próprio Alfredo, comentando a vida do pai, em sua obra  Letras Avulsas e Ritmos Proscritos, na “Crônica familiar” (p.131) a luta do imigrante, no início, foi dura, como a da maioria que aqui aportava. João, o patriarca começou como vendedor de bacias, panelas, cafeteiras, peças de cutelaria, tudo levado no lombo de animais e venda em fazendas da região. O passo adiante foi a montagem de uma pequena loja de consertos de sapatos na histórica Rua da Estação (Rua Voluntários da Franca). Daí, partiu para a criação de uma sapataria, ao lado do prédio da Sociedade Italiana. A seguir, tornou-se representante de uma fábrica, Ferrari e Felipe, de São Paulo, trabalhando na região da Mogiana e Sul de Minas, durante 7 a 8 anos.

Em 1928, João Palermo criou sua primeira fábrica, em sociedade com Braz Grisi. Em 1932, passou a atuar como firma individual, agregando o filho Américo que, por sua vez, foi trazendo outros irmãos: Elza, João Jr., Hélio, Leandro e Nelson. Estes, a seguir, se tornaram industriais em outras empresas próprias e, da prole, somente Maria e Alfredo não se dedicaram ao ramo calçadista. Maria casou com Alcides Franchini, proprietário de um posto de gasolina tradicional e Alfredo se dedicou à advocacia e ao ensino.

III.           Família.

Alfredo Palermo se casou com Nydia da Silva Castro Palermo em 04 de março de 1943, pouco tempo após assumir sua cadeira de Português, por concurso, no EETC de Franca. Teve três filhos: Maria Teresa Palermo Carvalho, casada com Torquato Celso Caleiro Carvalho; Alfredo Palermo Júnior, casado com Maria Helena Tenório Palermo e Carlos Eduardo de Castro Palermo, casado com Fernanda Kellner de Oliveira Palermo. Teve quatro netos: André, Adriana, Daniel e João Wilson; e dois bisnetos: Eduardo e Luca.

IV.          Formação.

Alfredo Palermo teve sólida formação cultural, iniciando seus primeiros estudos com uma professora e escritora querida, Evelina Gramani, a quem sempre voltava seu carinho e reconhecimento.Prosseguiu seus estudos no tradicional Colégio Champagnat, escola excelente, cujos professores, irmãos maristas, proporcionavam sólida educação para quem pretendia alçar voos mais altos.

O ensino superior foi feito na USP de São Paulo, ingressando no ano de 1935 em Direito na São Francisco, concluído em janeiro de 1940, e em Letras, concluído em dezembro de 1939. Também laureou-se em Criminologia, no Instituto de Criminologia do Estado de São Paulo, concluindo o curso em novembro de 1939. Na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco (USP) venceu o primeiro concurso de oratória ali realizado, fato que lhe abriu sobremaneira as portas para a carreira, principalmente no Tribunal do Júri e no magistério.

V.           Carreira.

Alfredo Palermo após formado iniciou sua carreira como advogado e professor na cidade de Marília, então uma jovem urbe. Lá, em pouco tempo, granjeou sólidas amizades graças ao destaque na advocacia e no jornalismo, onde era chefe de redação do hoje extinto Correio de Marília. Foi também diretor da Associação Atlética São Bento de Marília, clube de futebol e do Aeroclube de Marília, participando também dos inúmeros eventos musicais e culturais lá constantes.

Sua carreira meteórica e cheia de sucesso em Marília foi interrompida porque, tendo prestado concurso no magistério secundário, e sido aprovado, nomeado em 04.08.1942, passou a lecionar português em Franca, no EETC, uma das melhores escolas de Franca, onde permaneceu por 25 anos, tendo sido professor de extensa gama de jovens que se destacaram posteriormente na vida social, cultural  e econômica da cidade.

Paralelamente exerceu a advocacia e, graças à oratória e à vasta cultura, teve sucesso no Tribunal do Júri, marcando época no setor devido à repercussão das várias absolvições em casos difíceis em que esgrimia com seu grande conhecimento jurídico com excelentes promotores, como Hélio Bicudo.

O vírus do jornalismo nunca abandonou Alfredo e, já em Franca, passou a colaborar com o jornal O Comércio da Franca, dirigido por Ricardo Pucci, redigindo as colunas Gazetilha e Objetiva. Esta paixão durou por mais de 60 anos, passando ainda pelos diretores Alfredo Henrique Costa, Corrêa Neves, Sônia Machiavelli e seu filho Corrêa Neves Jr.

Concomitantemente ao  seu intenso magistério, Alfredo, juntamente com os professores Oliveiro Diniz da Silva e José Garcia de Freitas, adquiriram tradicional escola de contabilidade de Franca, o Instituto Francano de Ensino (Ateneu), construindo prédio próprio em local central e que, por dezenas de anos formou os melhores contadores da cidade. Ali também foi o embrião da UNIFACEF, universidade municipal atual, com a criação por Alfredo e sócios do curso de Ciências Econômicas, em 20 de março de 1951. Também ali foi criada, em 1974, por Alfredo e o sócio de então Dr. Oliveiro, a Instituição Educacional de Franca,  com dois cursos (Letras e Estudos Sociais) que, após 1976, foram absorvidos pela recém criada Unifran.

Na década de 50, Alfredo Palermo que já se destacava na cidade, foi procurado pelo ex-governador André Franco Montoro, ex-contemporâneo das Arcadas (São Francisco) que o convidou para entrar no então Partido Democrata Cristão e também para que postulasse uma cadeira na Câmara Federal. Alfredo, na qualidade de suplente, assumiu por três anos (1955-1958) a cadeira de Queiroz Filho que assumira o cargo de secretário do governo estadual. Teve brilhante participação como deputado federal e orador, numa época de ouro onde brilhavam Carlos de Lacerda, Ulisses Guimarães, Aurélio Vianna, Nestor Jost, Menotti del Picchia, Ranieri Mazzili, Fernando Ferrari, Pereira Lima, Franco Montoro, Jânio Quadros, Padre Godinho e tantos outros políticos na acepção da palavra.  Integrou a Comissão de Educação e Cultura (1955 a 1957) atuando intensamente no projeto de criação da Lei de Diretrizes Básicas da Educação (PL 2222/1957, Lei n.4024/1961), havendo discursos seus memoráveis nos anais:
http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD05JUN1957.pdf#page=31; http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD13JUN1957.pdf#page=28; http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD28MAI1958.pdf#page=34. 

Foi, ainda, o autor do projeto de lei que estabelecia o seguro de vida do trabalhador rural, bem como aquele que criou o salário família para o mesmo. A preocupação com o setor ainda o fez apresentar o projeto de lei que destinava o crédito anual de 500 milhões de cruzeiros (moeda da época) para o ensino rural pelo prazo de 10 anos.  Apesar da participação produtiva, Alfredo não teve o devido reconhecimento do eleitorado francano, numa época de intensa disputa eleitoral, com atuação negativa de alguns adversários, não logrando a reeleição por pequena margem de votos, sendo que o rival mais próximo também não se elegeu, ficando a cidade sem representante na época. Coisas da política que Alfredo logo absorveu, tanto que nunca mais se interessou pela mesma.



                                Cópia da carteira funcional de deputado federal


A vida de Alfredo Palermo, no entanto, era aquilo que mais gostava, ou seja, o magistério. Além do destaque como professor de Português para inúmeras gerações, foi professor na Faculdade de Direito de Franca e seu diretor de 1960 a 1972 e de 1976 a 1980. Em sua gestão foi inaugurado o atual prédio da Faculdade.

Em 08.06.2007, recebeu da Faculdade de Direito de Franca, o Diploma de Professor Emérito da Faculdade de Direito de Franca (o primeiro) “pela significativa contribuição para a institucionalização da Faculdade de Direito.”

Em 1962 foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca. Em 1963, atendendo convite do então governador do Estado, Adhemar Pereira de Barros, Alfredo teve a honra de instalar a faculdade, sendo os primeiros cursos: História, Geografia, Letras e Pedagogia. A faculdade teve início precário nas dependências do EETC e depois em um prédio de uma escola secundária até 1967. Em 1968, na gestão de Alfredo, foi adquirido o prédio do antigo Colégio de Nossa Senhora de Lourdes, no centro da cidade. Em 1976 a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi incorporada à atual UNESP.
Alfredo Palermo teve atuação intensa também no setor educacional e cultural na vizinha cidade de Ribeirão Preto. Foi professor de Direito na Faculdade Moura Lacerda (hoje Centro Universitário Moura Lacerda), na Barão de Mauá (hoje Centro Universitário Barão de Mauá) e Faculdade de Direito Laudo de Camargo da UNAERP. Foi membro atuante da Academia Ribeirãopretana de Letras, a partir de 06.08.1986, ocupando a cadeira número 13, cujo patrono é Augusto dos Anjos. Foi ainda membro da Academia Francana de Letras, a partir de 1998, ocupando a cadeira número 39, de Vicente Augusto de Carvalho.

Na carreira universitária, Alfredo Palermo doutorou-se pela USP, em 1973, e foi livre docente e titular por concurso na UNESP em 1979. Foi professor dos cursos de pós graduação da UNESP, Direito e também da UNIFRAN, Direito.

Em 1979 participou na Faculdade de Direito de Estrasburgo (França) da 1ª sessão do “Institut International des Droits Humains” e do “VII Cours de Recyclage de l’Enseignement des Droits de l’Homme”, apresentando trabalho. Posteriormente, baseado neste estudo publicou uma de sua obras “Os Direitos Sociais no Brasil” (1983).

Em janeiro de 1983 participou, em Lisboa, Portugal, na Universidade Católica Portuguesa - Faculdade de Ciências Humanas, de um Curso de Especialização em Processo Civil, em Seminário de Estudos Jurídicos para advogados brasileiros. Em 1996 participou em Roma, Itália, de um Seminário de Processo, na Pontifícia Universidade Urbaniana de Estudos.

Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, desde 01.11.1995. 

Foi presidente da Ordem dos Advogados de Franca - Subseção de Franca no biênio 1977 a 1979.  Também havia sido 1º secretário na gestão 1953-1955. Em 14 de setembro de 1989 recebeu Preito de Gratidão, da presidência do Conselho Seccional da OAB-Brasil, à época presidido pelo Dr. Antônio Claudio Mariz de Oliveira, “pelos relevantes serviços prestados à classe, à justiça e à sociedade durante meio século.”

Foi membro por décadas do Rotary Clube de Franca, com intensa atuação, sendo ainda Governador do Distrito 4540 (1953/1954). Em 28.06.2000, recebeu Diploma de Honra ao Mérito, do Rotary International, através de seu presidente, pelos 50 anos de Rotary.

VI.          Outras homenagens importantes.

Homenagem da Câmara Brasileira do Livro, na Semana do Escritor Brasileiro. Setembro de 1977.

Homenagem (placa de prata) da Faculdade de Direito de Franca, “pelo reconhecimento pela obra que ajudou a consolidar.” Março de 1983.

Homenagem (placa de prata) do Lions Clube Franca Sobral à “sua originalidade, sensibilidade e a beleza poética ao civismo francano”. 1991.

Homenagem (troféu de madeira) do 15º Batalhão da Polícia Militar do Interior. Franca, SP, em “gratidão e respeito dos soldados da paz”. Janeiro de 1995.

Laurea-Juris da Prefeitura Municipal de Franca, no 175º aniversário de Franca, “pela destacada atuação no campo do Direito Público, no município de Franca.” Novembro de 1999, gestão Gilmar Dominici.

Homenagem (placa de prata) “da Comunidade Acadêmica da Uni-Facef ao seu fundador e diretor (1951/1953) Prof. Dr. Alfredo Palermo, pela sua grandiosa iniciativa e concretização do ensino universitário de Franca.” Dezembro de 2004.

Homenagem (placa de prata) do CIEE – Centro de Integração Empresa Escola; AFC - Academia Franca de Letras e Jornal Comércio da Franca, por ocasião do 1º Prêmio Literário “Dr. Alfredo Palermo”, com o gênero poesia e o tema “A Cidade da Franca”. 25.10.2005.

Título honorífico de Cidadão Emérito, da Câmara Municipal de Franca, “em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à comunidade.” 19.05.2006. Presidente Marcelo Manbrini.

Homenagem póstuma da Câmara Municipal de Franca - Honra ao Mérito, “pela brilhante colaboração no trabalho de revisão de texto da Lei Orgânica do Município no ano de 1990.” 05.04.2010. Presidente Dr.Joaquim Pereira Ribeiro.

VII.         Obras publicadas.

Alfredo Palermo escreveu várias obras:

Direito Constitucional e Teoria Geral do Estado. Apostila para estudantes da Faculdade de Direito de Franca. Franca: Editora Iguatemi Ltda, 1970.

Estudo de Problemas Brasileiros. São Paulo: Lisa Livros Irradiantes S.A. 1.ed.1971. 2 ed. rev. e ampl. 1973.  Obra destinada à disciplina de Educação Moral e Cívica, então matéria obrigatória por força do Dec. Lei  n.º 869/69 para todos os currículos escolares.

Estudos Sociais. Brasil: Organização Social, Econômica e Política. Nível Superior. São Paulo: Lisa, 1973.

Protesto Cambial. Sustação e Cancelamento. São Paulo: Editora Pro-Livro S/A, 1976.

Franca. Apontamentos de sua história, usos e costumes. Franca: Ed.COPGRAF – Editorial, 1980.

Sete Apontamentos de Direito Público. Franca: Ed. Santa Rita Artes Gráficas Ltda, 1980.

Os Direitos Sociais no Brasil. Síntese de uma política social. Franca: Ed.do Departamento  do Serviço Social. IHSS. Unesp, 1984.

Letras avulsas e ritmos proscritos. Franca: Fundação Municipal Mário de Andrade. 1 ed., 1984, com 145 páginas.

Letras avulsas e ritmos proscritos. Franca: Ribeirão Gráfica e Editora. 2 ed. Ampliada, 2002, com  226 páginas.

Protesto de Títulos. Sustação e Cancelamento. 4.ed. revista, em co-autoria com Carlos Eduardo de C.Palermo. São Paulo: Lemos & Cruz, 2006.

Teses.

Doutorado: Os direitos e garantias individuais e a Constituição do Império. USP, 1973.
Livre docência: Moral e civismo na legislação escolar brasileira. UNESP,  1982.

Hinos.

Alfredo Palermo é o autor da letra oficial do Hino da Franca, oficializado por Lei Municipal de 1968.

Hino da Franca. Letra.

Salve Franca, cidade querida,
Áurea gema do chão brasileiro,
Teu trabalho é uma luta renhida,
Sob a luz paternal do Cruzeiro.
No sacrário de mil oficinas,
Teu civismo é mais santo e mais puro,
Labutando é que a todos ensinas
O roteiro de luz do futuro.
 
Estribilho
Juventude, memoremos
A bravura ancestral,
E a pureza,
A beleza
Desta terra sem rival,
Seresteiros, evoquemos
Um pretérito imortal,
Pois, na presente grandeza,
Fulge a grata certeza
De um porvir sem igual.
II
És florão da grandeza paulista,
Semeada em teu chão feiticeiro:
Teu café em aléias se avista,
Soberano, em seu reino altaneiro.
Salve Franca de tardes douradas,
Três Colinas amenas, ridentes:
Relembro tuas glórias passadas,
Outras glórias sonhamos presentes!

Para quem se interessar, há uma gravação disponível no YouTube :

É também autor da letra do Hino da Padroeira de Franca: Nossa Senhora da Conceição, em 08.12.2004, em homenagem aos 150 anos da declaração do dogma da Imaculada Conceição.

Letra do Hino da Padroeira.

Salve, salve Maria Imaculada,
Rainha etérea, mãe do Redentor.
Tua missão divina, consagrada,
Levou-me à gloria excelsa do Senhor!
Escolhida por Deus, predestinada,
Fez-te o Senhor fonte pura de amor.
Estrela, entre estrelas, mais amada !
Glória divina, pureza e louvor !
Refrão: Madona, dos francanos aclamada !
             De bondade divina e esplendor!
             Virgem de Nazaré, abençoada,
             Aceita nosso canto e nosso amor!

Ainda é o autor da letra do Hino do Agabê (antiga fábrica de calçados de propriedade de seu amigo Hugo Betarello) .

VIII.       Homenagens.

Projeto de lei nº 540, de 2010, de autoria do Deputado Roberto Engler, denomina “Professor Dr. Alfredo Palermo” à Escola Estadual do Jardim São Domingos em Franca.

Projeto de lei n.139/2014, de autoria do vereador Jépi Pereira , aprovado e transformado em Lei n.8.160 de 30 de setembro de 2014, denomina Professor Doutor Alfredo Palermo o Boulevard - Calçadão da Faculdade de Direito de Franca, localizado na rua Nabi Haber, no trecho compreendido entre a Rua Major Nicácio e a rua Comendador Nassim Mellem.

IX.          Curiosidades.

Alfredo Palermo teve, sempre, uma vida rica em mil atividades. Seu interesse cultural sempre o levou a novas descobertas, viagens e novas situações.

Fato ocorrido quando ainda estudava no Colégio Champagnat de Franca, de irmãos maristas, era sempre lembrado pelo próprio Alfredo Palermo. Numa determinada época, alguns alunos fizeram greve. O reitor (irmão marista) da escola chamou alguns alunos e perguntou quem eram os responsáveis. Como Alfredo jogava futebol e era o dono da bola, foi lembrado por alguns. Os envolvidos, então, foram suspensos e a falta anotada na caderneta escolar. Chegando em casa Alfredo mostrou a caderneta ao seu pai João que, de imediato, lhe perguntou se havia participado do ato que gerara a punição. Alfredo, que não havia participado, negou. Seu pai, que confiava nele, colocou um revólver na cintura e se dirigiu ao colégio. Lá, pediu para conversar com o reitor. Atendido, colocou a arma na mesa e argumentou que o filho não havia participado do ato que motivara a punição, não mentia e que a suspensão deveria ser anulada. Imediatamente, conseguiu.

No dia a dia do magistério colecionou fatos e circunstâncias que ilustravam episódios cômicos em determinadas situações, como ficou bem difundido o ocorrido em plena sala de aula, no tradicional EETC, em que um aluno brincalhão arremessava sementes de milho enquanto o professor escrevia na lousa a lição do dia. Fleumático, o professor virou-se e disse: -“alguém perdeu a sua ração...”

O EETC, no “Dia do Professor” realizava sempre uma partida de futebol entre os professores e os alunos, fato que acontecia no campo do Palmeirinhas ou no Colégio Champagnat. Alfredo Palermo sempre fazia questão de participar e, coincidência ou não, sempre na qualidade de centro avante marcava seu golzinho.

Ardoroso adepto de viagens, Alfredo protagonizou várias aventuras. Na década de 50, dirigindo seu Ford 51, com a esposa e os três filhos, dirigiu-se de Franca até a Bahia, enfrentando estradas sofríveis de terra, com vários pneus furados, pernoites em pousadas infestadas de percevejos e até a terrível falta de dinheiro. Aí, a salvação foi o fato de ser rotariano. Alfredo procurou o presidente de um clube, no interior da Bahia onde, por força dos reparos no veículo, seu dinheiro havia acabado e lhe relatou o problema. Disse ao colega rotariano que precisava de uma importância para concluir a viagem e que daria ao mesmo, em garantia, sua bela máquina fotográfica Rolleiflex. Imediatamente, o fraterno rotariano avisou que nada disso seria necessário e que, à noite, iria ao hotel levar o dinheiro. E foi o que fez.  Entregou-lhe um envelope com o dinheiro necessário, não sem antes lhe avisar que a devolução do dinheiro poderia ser feita quando do retorno à cidade de Franca. Alfredo, aproveitando que a importância emprestada era suficiente e ainda sobrava um pouco, estendeu sua viagem por mais alguns dias!

Também gostava muito de passar alguns dias em Poços de Caldas, no período das férias escolares, com a família, quase sempre no conhecido Hotel Minas Gerais, que possuía funcionários muito atenciosos e refeições maravilhosas. Em uma ocasião, viagem preparada, seu carro ficou na oficina e então não teve dúvida, aceitou a oferta de utilização de um carro (Chevrolet ou Ford, 1939) de um parente e amigo, o fazendeiro sr. Juca Vilela, pai da Lourdinha Vilela Bittar, esposa do Samir (Nenê) Bittar, a qual também era uma das acompanhantes ao passeio. Infelizmente, no meio do caminho, o motor do carro fundiu e o motorista precisou de auxílio. Alfredo se socorreu do mano Nelson que tinha um belo Chevrolet coupê, que lhe foi levado pelo cunhado Alcides Franchini, trazendo o avariado de volta e a viagem continuou normal.

Alfredo Palermo ainda fez mais uma viagem corajosa, saindo de Franca, com um Aero Willis, 1964, dirigido por ele, levando quatro pessoas, juntamente com o genro Torquato Celso Caleiro Carvalho, que com um Fusca levava Maria Teresa, sua filha. Juntos se dirigiram numa longa viagem passando pelos estados de Paraná e Santa Catarina, até o Rio Grande do Sul. Não é preciso dizer das dificuldades da viagem, com estradas de terra, locais em que os carros tinham de se deslocar dentro da carroceria de caminhões para atravessar rio, etc.

Protagonizou uma viagem épica que ocorreu uma semana antes da inauguração da cidade de Brasília. Alfredo, que há poucos anos vivenciara, como deputado, o convívio com Juscelino Kubistcheck e era entusiasmado pelo trabalho do mesmo, reuniu a família e mais alguns amigos, num total de nove pessoas e, dirigindo uma Kombi (!) saiu de Franca às 7h00, chegando a Brasília após 20 horas, gastando 90 litros de gasolina a uma velocidade de 60 km. Da aventura surgiu mais uma crônica no Comércio da Franca, onde mais elogiou a indústria automobilística do que a própria existência da nova capital do País.

Outra curiosidade: na década de 50, além dos inúmeros afazeres como professor, advogado, deputado, Alfredo aceitou comprar uma granja de galinhas (!). A granja, muito bem organizada, carecia do devido conhecimento técnico e, por conseguinte, com receita menor do que as despesas, quase levou o mestre à falência.

Nos anos sombrios que se seguiram à Revolução de 1964, sob o governo dos militares, qualquer opinião mais liberal era interpretada pela censura que dominava o País como ato de conspiração de caráter “comunista”. Franca, como as demais cidades do Brasil, também vivia tal clima. O jornal Comércio da Franca era, à época, dirigido pelo prof. dr. Alfredo Henrique Costa, grande amigo de Alfredo Palermo. Ambos se tratavam de “xará”. Costa era irrequieto, ativo e, como bom jornalista, falava sempre verdades que não agradavam aos detentores do poder. Para aquilo que contrariava suas atitudes, coloriam como ato de rebeldia e conspiração. Assim, por diversas vezes, o prof. Henrique Costa era obrigado a explicar aos censores seus comentários jornalísticos. E o inevitável ocorreu. Certo dia, na calada da noite, policiais levaram de forma truculenta o prof. Henrique Costa, que teve até seus óculos quebrados, e mais alguns outros francanos em camburão para a cidade de Ribeirão Preto. Tendo tomado conhecimento, através de familiares de Alfredo Henrique Costa, da prisão arbitrária, Alfredo Palermo se dirigiu à Ribeirão Preto e obteve a liberação de Costa, tendo em conta as explicações efetuadas e o fato de que o Coronel da PM, comandante à época, era aluno no curso de Direito da Laudo de Camargo, onde o prof. Palermo lecionava.

Nas décadas de 70 e 80, quando ainda lecionava na vizinha cidade de Ribeirão Preto, as viagens aconteciam de forma especial, pois o mestre saía ao entardecer de Franca, lecionava por quase três horas, era convidado pelos alunos para bate papo no famoso Pinguim, o templo do chopp, e ainda retornava a Franca quase de madrugada para, na manhã seguinte, iniciar outra maratona de aulas, sempre feliz e otimista.

X.           Conclusão.

Estes modestos subsídios biográficos visam, em última análise, contribuir para um importante aspecto de uma cidade, qual seja a preservação de sua memória histórica. Nesse diapasão, se as pessoas guardam conhecimento de suas raízes e, automaticamente, conhecem a sua relevância, passam a  valorizar tal conhecimento, transmitindo-o para as gerações vindouras, evitando que seja olvidado. Por isso que se entende que conhecer o nosso passado e preservar a memória e a cultura são requisitos para as ações do presente. E também refletir sobre a memória é valorizar o passado e seus legados, é ser sujeito da construção da história, consistindo, em síntese, em um pressuposto elementar para o exercício da cidadania. Enfim, a memória, como registro de experiências significativas, deve ser valorizada e preservada, figurando como elemento fundamental da identidade cultural.

No caso de Alfredo Palermo, é muito difícil uma pessoa conseguir frutos tão generosos na área da educação naquela época (metade do século XX), tão escassa de meios tecnológicos, numa pequena cidade do interior, o que justifica tais relatos que só enriquecem sua trajetória para conhecimento das gerações futuras.

Além de bem dotado intelectualmente, teve a felicidade de viver a experiência de ser oriundo de sólida formação familiar. À época, era comum o conceito tão bem retratado nos livros jurídicos que entendiam que “dentre todas as instituições, públicas ou privadas, a da família, reveste-se da maior significação. Ela representa, sem contestação, o núcleo fundamental, a base mais sólida em que repousa toda a organização social.” E mais: “realmente, no seio desta originam-se e desenvolvem-se hábitos, inclinações e sentimentos que decidirão um dia da sorte do indivíduo. No colo da mãe, assevera PLANIOL, forma-se o que há de maior e de mais útil ao mundo, um homem honesto” (MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. Direito de família. 2º v. 13.ed. São Paulo: Saraiva, p.1).

Alfredo Palermo não só vivenciou tal forma de vida, como pautou a de sua própria família e dos cidadãos francanos, atuando sempre no sentido de ajudar, ensinar e colaborar com os demais seres humanos, numa visão cristã sadia e produtiva. Ninguém como ele soube cultivar a essência da família e o amor ao próximo, no meio dos inúmeros afazeres cotidianos que enfrentava. E isto, certamente, ficará na lembrança de todos aqueles que tiveram o privilégio de compartilhar seus exemplos, além da herança cultural deixada para a cidade que tanto amou.

Na galeria dos grandes personagens que construíram a cidade de Franca, sem dúvida, Alfredo Palermo merece lugar de destaque.