quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O Papa, Lula e a infalibilidade papal

No último dia 13 ocorreu o encontro entre o Papa e Lula, no Vaticano. A audiência foi obtida através do presidente argentino, fato que causou surpresa uma vez que trata-se do encontro de um ex-presidente condenado por corrupção e um líder de um Estado (o Vaticano), fora do contexto usual. O encontro ocorreu em meio ao notório enfraquecimento do catolicismo no Brasil, fruto de uma batalha ideológica entre duas alas da Igreja, a conservadora e a progressista, a última formada por clérigos que cresceram junto ao surgimento e desenvolvimento do petismo. O pior é que o lamentável encontro pode acarretar aumento dos descontentes com os rumos da Igreja no Brasil, uma vez que há pesquisa do suspeito instituto Datafolha, de dezembro de 2019, no sentido de que 50% dos brasileiros, ou cerca de 105 milhões de pessoas, se declaram católicos. Apesar do relevante índice, trata-se de número muito menor do que o que existia há algumas décadas, 1970, no qual os católicos formavam 90% da população. Segundo as pesquisa, os evangélicos somam hoje 31% ou 65 milhões de fiéis, contra cerca de 5% na década de 1970. Estima-se em projeções que eles podem ultrapassar os católicos no país na década de 2030.
Este aspecto poderia, sim, ser preocupante em relação ao encontro do Papa com Lula no que diz respeito aos católicos mais simples e menos esclarecidos sobre a infalibilidade papal.
Sabe-se que a Doutrina da Infalibilidade do Papa, que é um dogma e representa o efeito concreto da promessa de Cristo de preservar a sua Igreja na verdade, foi definida no 4º capítulo da 4ª sessão do Concílio Vaticano I, ocorrido entre 1869 e 1870, durante o pontificado de Pio IX.  Está definido que a infalibilidade papal só é válida quando o Papa fala ex cathedra em situações solenes especiais, onde está em questão a clarificação definitiva de certas verdades relativas à fé e à moral. Ou seja, deliberar e definir ex cathedra significa que o Papa com sua suprema autoridade (primazia papal), tem que falar como o Pastor da Igreja Universal e também tem que ter a intenção de definir alguma doutrina de fé ou costume para que seja acreditada por todos os fiéis. Neste caso, as encíclicas e a grande maioria dos documentos pontificais não são definições ex cathedra, mas apenas orientações do Papa.
Falando ex cathedra, portanto, as decisões papais são infalíveis e imutáveis, tanto que na história da Igreja, com 266 Papas, nunca um Papa mudou a decisão do anterior, dada a condição de dogma estabelecido.
Portanto, não devemos ficar assustados com o encontro do Papa com Lula. O Papa, como homem, tem o direito de ter suas preferências e atitudes. Tanto que, agora, noticiou-se que ele recusou receber Michel Temer.  As pessoas esclarecidas não mudarão seu conceito sobre a Igreja e nem terão sua fé abalada. Por outro lado, o cuidado que deve ser observado é o impacto que o fato possa causar às pessoas simples que, confundindo um ato do homem Jorge Bergoglio, com um ato do Papa Francisco, podem ter a fé abalada.
O que deve ser salientado é que as posições de Jorge Bergoglio nem sempre significam a posição da Igreja e do Papa enquanto porta voz das influências recebidas do Espírito Santo e inerentes à atividade papal ex cathedra.