A imprensa local noticiou (16.10), informando que o bispo diocesano Dom Pedro Luiz Stringhini teria advertido o pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida (Capelinha), frei Jesús Maria Mauleón, porque o mesmo divulgou artigo oriundo de manifestação do bispo de Guarulhos (Dom Luiz Gonzaga Bergonzini), crítico do programa abortivo do PT, e que recomenda que os católicos não votem em Dilma. Segundo a nota, o bispo local teria afirmado: "Tenho orientado que o aborto é um crime, mas a escolha do candidato fica por conta do fiel." Entendo que o posicionamento do bispo local foi infeliz e inoportuno. A democracia está acima da hierarquia. Embora superior hierarquicamente, o bispo deveria se manter neutro em relação ao posionamento do frei que, por sinal, para a grande maioria das pessoas, é um posicionamento válido. A advertência suscita dúvida se o bispo realmente diz o que disse ou se, no íntimo, manifesta sua posição pessoal. Ou seja, o melhor teria sido permanecer alheio e calado. Aliás, nem sempre as manifestações de membros da Igreja são felizes pois, como se sabe, na questão relacionada à terra, há posicionamento equivocado ocorrendo até estímulo ao movimento MST. Some-se a tal fato, a posição passiva quanto ao lamentável episódio relacionado a padre local e pedofilia e ficamos com um início nada alentador da referida autoridade eclesiástica.
Na doutrina jurídica temos grandes autores, como Del Vecchio (Lições de filosofia do direito, 5a. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1979. p.60) que separam a compreensão da diferença entre lei humana e lei divina: "A doutrina do Cristo foi, essencialmente, apolítica. Todos os seus ensinamentos, ainda mesmo aqueles que depois foram utilizados para justificar o domínio temporal, tiveram originária e exclusivamente um significado espiritual. Jesus disse: Não vim para ser servido, mas para servir. O meu reino não é deste mundo. Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus".
Por seu turno, Eduardo C. B. Bittar e Guilherme Assis de Almeida, na obra Curso de filosofia do direito (São Paulo: Atlas, 2001. p.153), têm posicionamento esclarecedor: "A liberdade de agir do cristão reside no fato de que, conhecendo a Palavra Revelada, não precisa de outra crença senão a crença no ensinamento de Jesus para governar-se a si próprio. Assim, não se ilude com as tentações do que é transitório, não age de modo a desgostar o outro, guia-se e pauta-se de acordo com o que pode fazer para melhorar sua condição pessoal e a de seu semelhante, vive na carne tendo em vista o que é do espírito... Aí está a liberdade de agir do cristão; para além de se considerar que o cristianismo constrange, sufoca, oprime, predetermina, deve-se dizer que liberta a alma para ser conforme a regra cristã. A liberdade está, nesse sentido, em oposição à idéia de determinismo, ou seja, de um Deus que predeterminou o destino das almas. O fiel é livre para governar-se a si próprio, e discernir o que deve e o que não deve ser."
Num jogo de xadrez isto serve, também, tanto para o peão como para o bispo!
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