Lava Jato: o Brasil não será a Itália.
A operação Lava Jato tem similaridade com a Operação Mãos Limpas (Mani Pulite) da Itália. Em ambas, magistrados arrojados trataram de processos inicialmente banais e que, posteriormente, se transformaram em investigações e processos de grandes corrupções envolvendo entes públicos e políticos.
Na Itália, o início deu-se em 1992, tendo começado com uma denúncia do dono de uma empresa de materiais de limpeza ao procurador Antonio di Pietro. Descobriu-se, a seguir, o império da propina. Investigou-se o escritório do PSI (Partido Socialista Italiano). administrador do asilo Pio Alberto Trivulzio que teria recebido U$$6 mil de origem ilícita. Feita uma longa investigação, chegou-se a Betino Craxi (PSI), primeiro-ministro. Daí, investigou-se o Caso Enimont, em 1993, considerado por muitos o epicentro da Operação Mãos Limpas. Só neste caso se comprovou o pagamento de US$250 milhões em propinas a líderes políticos de cinco partidos italianos, a partir de desvios da empresa pública-privada da indústria petroquímica Enimont. O procurador Di Pietro, um ex-investigador de polícia e perito em informática, liderou um grupo do judiciário que, através da técnica de comparações de balanços das empresas e de centenas de delações premiadas, conseguiu comprovar uma rede incestuosa entre empresários e políticos. Centenas de prisões ocorreram, alguns empresários suicidaram, um juiz foi morto.
No Brasil, a operação Lava Jato teve início com uma prosaica investigação de uma rede de postos de combustíveis que movimentava recursos ilícitos pertencentes a organizações criminosas. Daí, estendeu-se à Petrobrás e tornou-se o maior caso de corrupção e lavagem de dinheiro do Brasil. O início foi em março de 2014, perante a Justiça Federal de Curitiba, relacionada a doleiros que lideravam organizações criminosas e eram operadores do mercado de câmbio. Um braço dos criminosos era dos funcionários da Petrobrás, outro era dos agentes políticos que recebiam propinas assim como os funcionários. A propina era distribuída entre três partidos PT, PMDB e PP.
Assim como na Itália, o sucesso das investigações teve grande alento com as sucessivas delações, aqui denominadas colaborações, de acusados que, para se livrarem de penas maiores, confessam suas participações e apresentam provas sobre os fatos que alegam e que envolvem outros participantes.
Atualmente, no Brasil, estamos numa fase crucial, onde abundam provas contra a presidente Dilma e alguns de seus principais ministros, Lula, ex-presidente (ainda solto) e considerado o líder da facção criminosa, junto a outros que já estão presos (Dirceu, Marcelo Odebrechet, Paulo José da Costa, Yussef, João Santana, etc). E, após uma liminar dada pelo ministro Gilmar Mendes, que aceitou as alegações de dois partidos políticos (PSDB e PPS), num mandado de segurança, anulando o ato de nomeação de Lula como ministro, com a finalidade de blindá-lo do julgamento de Sergio Moro, parece que tudo irá caminhar para o julgamento dos principais responsáveis pelos assaltos aos cofres públicos, além de acelerar o processo de impeachment da presidente Dilma, fato que coroará os anseios da população brasileira e propiciará o retorno do caminho do país aos trilhos da normalidade.
Finalmente, em relação ao título do presente, o que se coloca é que, em relação à Itália, a Operação Mãos Limpas, após muitos anos de investigação e prisões, teve seu objetivo frustrado porque ao longo dos anos os políticos de lá aprovaram inúmeras leis que os beneficiaram, especialmente a partir de Silvio Berlusconi,
Di Pietro, o Sergio Moro italiano, hoje está afastado, aposentado, criou um partido político e elegeu-se deputado, mas, triste, afirma: "A Itália de 1992 e a Itália de 2016 são a mesma. O país não mudou. Há poucas horas, 12 pessoas foram presas, entre elas um magistrado, políticos e empresários, acusados de cometer o mesmo crime que se cometia em 1992." (in entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", sob o título "Mãos ainda sujas", caderno Aliás, p.E1 e E2, de 13.03.16). Por isso, experiente, Di Pietro aconselha aos brasileiros: "vejo muita semelhança entre o Brasil e a Itália na tentativa de transformar em luta política o que é uma investigação judiciária. Por isso faço um apelo à opinião pública brasileira: quem lhes faz crer que a investigação é um golpe está tentando se livrar. Se alguém é investigado, mas é inocente, que corra lutar por sua inocência, mas não ataque a magistratura. Ajudem a magistratura, não a criminalizem. Já se está fomentando na população uma divisão no Brasil. Aconteceu conosco, é uma fotografia do que já vi."
Todos nós engrossamos os desejos de Di Pietro. Aqui, temos o juiz Sergio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e uma imensa plêiade de juízes federais, procuradores da República, policiais federais, da mais alta qualidade e patriotismo que estão lavando a sujeira do país. Em feliz posicionamento, de hoje, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre a Operação Lava Jato afirmou: "é a expressão da modernização do Brasil e do robustecimento de instituições, o que é positivo. Eu nunca vi a Polícia Federal ser aplaudida na rua. Houve o reconhecimento de que funcionou como órgão de Estado." (entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", intitulada 'Agora o caminho é o impeachment', caderno de política, p.A4 e A5, de 20.03.16).
Temos de acreditar que, após esta injeção de patriotismo aplicada por Sergio Moro e Cia., e, após a aplicação da lei contra aqueles que, seguidamente e ostensivamente, a burlaram, a geração nova que hoje assiste a estes atos gloriosos de democracia não permitirá que fatos semelhantes voltem a ocorrer! E, queremos crer que não teremos o destino infeliz que a operação italiana teve.
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