domingo, 4 de maio de 2014

A lucidez do poeta e a política nacional.




Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem.
Ferreira Gullar
Ferreira Gullar, talvez o maior poeta vivo do Brasil, assina uma coluna dominical no jornal Folha de S. Paulo, onde, com maestria e lucidez aos 84 anos, mostra sua faceta brilhante de articulista e comenta assuntos ligados à política e arte em geral. No último domingo, seu texto, intitulado "Arte de enganar pobres" (p. E10, Ilustrada) aborda  a falência do socialismo na América Latina, e o surgimento daquele ao qual atribui o nome de neopopulismo, destinado a diferenciá-lo do populismo original próprio dos regimes de direita como peronismo, varguismo, e que tem no chavismo exemplo maior, com seguidores no lulismo,  e petismo de modo geral, órfãos do falido regime soviético e que, por não poderem mais se apresentar como tal, criaram uma "contrafação do projeto revolucionário". Assim, após sucessivas derrotas, Lula se aliou ao capitalismo para chegar ao poder e, tão logo o alcançou, adotou um regime assistencialista com o Bolsa Família e outras medidas econômicas para aumentar o consumo pelos menos favorecidos.
O bastão foi entregue a Dilma e o sistema persiste. Como insiste Gullar, o uso da máquina do Estado não serve para obter o bem-estar do país, mas, sim, "crescer politicamente". E, continua: "o neopopulismo é isso: distribuir benesses às camadas mais pobres da população para ganhar-lhe os votos e manter-se indefinidamente no poder." Gullar conclui que o povo continua pobre, sem perspectivas de melhorias, apesar de não morrer de fome, o país não se desenvolve, fica estagnado e lamenta que o dinheiro gasto com o Bolsa Família e outras medidas populistas não seja destinado à educação, saneamento e problemas de infraestrutura, possibilitando "melhores condições profissionais ao trabalhador e possibilitando o crescimento econômico."
Sábias palavras e, penso, o que sente todo brasileiro sensato.
Aliás, é oportuno informar que, confirmando este abandono da educação no Brasil, a revista Veja informou sob o título "É muita falta de educação", no dia 01.05., em sua versão para internet, que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em ranking sobre educação de 36 países, o Brasil ficou em 35º ! Esta avaliação é posterior a outra feita há pouco tempo em que o Pisa (sigla, em inglês, para Avaliação Internacional de Alunos) informou que em 2013 o Brasil ficou em 58ª posição num ranking de 65 países no quesito educação. Para se ter uma ideia melhor, um aluno chinês (país que ocupa o 1º lugar no ranking) de 10 anos tem o mesmo desempenho de seu colega brasileiro de 15 anos, o mesmo acontecendo com o coreano de 11, o americano de 12 e o tailandês de 14.
Portanto, aqueles que comungam com o pensamento de Gullar devem se unir para lutar para a mudança no poder político atual, substituindo o neopopulismo lulista por candidato que se apresente como transformador da situação atual, priorizando como nunca a educação, alicerce para as demais conquistas sociais! Não por acaso, Eduardo Campos, um dos postulantes ao cargo máximo brasileiro já se antecipou, colocando a educação como sua prioridade governamental.


P.S. Enquanto rabisco estas notas, fico assombrado com o volume de pessoas que atravancam o trânsito na rua Major Claudiano, Praça do Cemitério, em frente a uma banca de jornais, todos unidos na bucólica "troca de figurinhas" de jogadores de futebol da Copa do Mundo ! Isto, em frente à construção da Casa da Cultura e da Arte de Franca! Só um psiquiatra para explicar tamanho desatino num país faminto de educação!

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